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sábado, 26 de julho de 2014

O Que é a Presença de Cristo?





Qual será o sinal da tua presença e da terminação do sistema de coisas?” — MAT. 24:3.
“QUANDO sucederão estas coisas e qual será o sinal da tua presença e da terminação do sistema de coisas?” (Mat. 24:3) Essa pergunta foi feita há quase dois mil anos por quatro apóstolos de Jesus numa conversa particular com seu Mestre no monte das Oliveiras. Nessa pergunta, os apóstolos usaram duas expressões muito interessantes: “tua presença” e “terminação do sistema de coisas”. A que se referem essas expressões?
Primeiro, vamos analisar a segunda expressão. O termo “terminação” é tradução da palavra grega syntéleia. Na Tradução do Novo Mundo essa palavra sempre é vertida “terminação”, ao passo que a palavra grega relacionada, télos, é traduzida “fim”. A diferença de sentido entre essas duas palavras pode ser ilustrada pela maneira como é apresentado um discurso no Salão do Reino. A conclusão, ou o término, do discurso é a sua última parte. Nela, o orador passa um certo tempo relembrando à assistência os pontos explicados e mostra como as informações se aplicam aos ouvintes. O fim do discurso é quando o orador deixa a tribuna. De modo similar, do ponto de vista bíblico, a expressão “terminação do sistema de coisas” se refere ao período que antecede e inclui o próprio fim.
E a que se refere a “presença” a respeito da qual os apóstolos perguntaram? Essa é a tradução da palavra grega parousia. A parousia, ou presença, de Cristo começou com a entronização de Jesus no céu em 1914 e incluirá a “grande tribulação”, durante a qual ele virá para destruir os perversos. (Mat. 24:21) Durante essa presença de Jesus acontecem muitas coisas, incluindo os “últimos dias” deste sistema perverso, o ajuntamento dos escolhidos e a ressurreição deles para a vida celestial. (2 Tim. 3:1; 1 Cor. 15:23; 1 Tes. 4:15-17; 2 Tes. 2:1) Pode-se dizer que o período que constitui a “terminação do sistema de coisas” (syntéleia) corresponde ao período chamado presença (parousia) de Cristo.
Um período prolongado
O fato de a palavra parousia se referir a um período prolongado está em harmonia com o que Jesus disse a respeito de sua presença. (Mateus 24:37-39.) Observe que Jesus não comparou sua presença ao período relativamente curto em que ocorreu o Dilúvio nos dias de Noé. Em vez disso, ele comparou sua presença ao período muito mais longo que antecedeu ao Dilúvio. Incluem-se nesse período a construção da arca e a realização da obra de pregação por Noé, período este que se estendeu até o dia em que o Dilúvio por fim começou. Esses eventos ocorreram ao longo de muitas décadas. De modo similar, a presença de Cristo inclui a grande tribulação e os acontecimentos que a antecedem. — 2 Tes. 1:6-9.
Outras profecias bíblicas deixam claro que a presença de Cristo se refere a um período prolongado, e não apenas à sua vinda para destruir os perversos. O livro de Revelação retrata Jesus como cavalgando num cavalo branco e recebendo uma coroa. (Revelação 6:1-8.) Depois de ter sido coroado Rei em 1914, Jesus é descrito como saindo “vencendo e para completar a sua vitória”. O relato então mostra que depois dele surgem cavaleiros montados em cavalos de cores diferentes. Esses representam profeticamente guerras, fome e pestilências — desgraças que têm ocorrido durante o período prolongado chamado de “últimos dias”. Vemos o cumprimento dessa profecia em nossos tempos.
 O capítulo 12 de Revelação dá mais detalhes sobre o estabelecimento do Reino de Deus no céu. Fala de uma batalha no domínio invisível. Miguel — Jesus Cristo na sua posição celestial — e seus anjos lutam contra o Diabo e seus demônios. Em resultado disso, Satanás, o Diabo, e suas hostes são lançados para a Terra. Nesse ponto, conta o relato, o Diabo tem grande ira, “sabendo que ele tem um curto período”. (Revelação 12:7-12.) Fica claro, então, que o estabelecimento do Reino de Cristo no céu é seguido de um período marcado por um intensificado “ai” para a Terra e seus habitantes.
O Salmo 2 também fala profeticamente sobre Jesus ser empossado Rei no monte Sião celestial. (Leia Salmo 2:5-9; 110:1, 2.) No entanto, esse salmo também indica que há um período em que os governantes da Terra, junto com seus súditos, recebem a oportunidade de se submeterem ao governo de Cristo. Eles são exortados a ‘usar de perspicácia’ e a aceitar ser ‘corrigidos’. Durante esse período, são “felizes todos os que se refugiam [em Jeová]” por servirem a Ele e a seu Rei designado. Portanto, durante a presença de Jesus como Rei, concede-se aos governantes e seus súditos uma oportunidade para fazerem as mudanças necessárias. — Sal. 2:10-12.
O reconhecimento do sinal
 Quando os fariseus perguntaram a Jesus sobre quando o Reino viria, ele respondeu que este não viria de modo “impressionantemente observável” do ponto de vista deles. (Luc. 17:20, 21) Descrentes não compreenderiam. E como poderiam? Eles nem reconheceram Jesus como seu futuro Rei. Então, quem reconheceria o sinal da presença de Cristo e compreenderia seu significado?
Jesus continuou, dizendo que seus discípulos veriam o sinal de forma tão clara que seria como se estivessem vendo um “relâmpago, com o seu lampejo, [que] brilha duma parte sob o céu à outra parte”. (Lucas 17:24-29.) É interessante notar que Mateus 24:23-27 relaciona essa mesma ideia diretamente com o sinal da presença de Cristo.

Tempo do fim



Expressão encontrada seis vezes no livro de Daniel. Refere-se a um período que marca a conclusão de um sistema de coisas e que culmina em sua destruição. Forneceu-se ao profeta Daniel uma previsão dos acontecimentos que ocorreriam no futuro distante. Depois disso, foi-lhe dito: “E quanto a ti, ó Daniel, guarda em segredo as palavras e sela o livro até o tempo do fim. Muitos o percorrerão, e o verdadeiro conhecimento se tornará abundante.” — Da 12:4.
A respeito deste texto, o comentarista Thomas Scott, na primeira metade do século 19, fez a seguinte observação: “O anjo, em conclusão, deu a entender a Daniel que esta profecia permaneceria obscura e como ‘um livro selado’, do qual pouco se entenderia, ‘até o tempo do fim’ . . . Os fatos têm evidenciado que realmente sucedeu assim: sempre se reconheceram imensas dificuldades em muitas profecias de Daniel, e estas têm sido como ‘palavras fechadas’ até mesmo para os crentes em geral. . . . Em tempos mais recentes, muitos têm feito grandes esforços, no que concerne a investigar a história, para ilustrar as partes dessas profecias que já se realizaram e para formular, mediante a comparação delas com outros textos, algum critério do que ainda resta para se cumprir; e assim se tem fornecido muito esclarecimento sobre elas. À medida que gradualmente forem sendo cumpridas, serão mais bem entendidas; e gerações futuras ficarão bem mais surpresas e instruídas por elas do que nós.” (Explanatory Notes [Notas Explanatórias], de Scott, 1832) A falta de entendimento das profecias de Daniel, em princípios do século 19, indicava que o predito “tempo do fim” ainda era futuro, visto que os “perspicazes”, os verdadeiros servos de Deus, haviam de entender a profecia no “tempo do fim”. — Da 12:9, 10.
A expressão “tempo do fim” também é usada no que diz respeito a acontecimentos específicos relacionados com o governo humano. Daniel 11:40 reza: “No tempo do fim, o rei do sul se empenhará com [o rei do norte] em dar empurrões, e o rei do norte arremeterá contra ele com carros, e com cavaleiros, e com muitos navios.” Depois disso, a profecia considera as ações do “rei do norte” e indica que este terá um fim. (Da 11:41-45) Assim, o “tempo do fim”, neste caso, deve evidentemente ser entendido como um período que culmina com a destruição do “rei do norte”. O que confirma isto é que o “rei do norte” é anteriormente representado perseguindo os servos de Deus, os “perspicazes”, até o “tempo do fim”, isto é, até o seu tempo do fim. — Da 11:33-35.
Outro aspecto associado ao “tempo do fim” é o erguimento dum “rei de semblante feroz” que tomaria posição contra o “Príncipe dos príncipes” e por fim seria destroçado ou destruído. Este “rei” se ergueria na parte final dos reinos que surgiriam das quatro partes em que se dividiria o Império Grego. (Da 8:8-25) Uma vez que o “rei do norte” e o “rei do sul” surgiram da mesma fonte, segue-se logicamente que o “rei de semblante feroz” corresponde a um desses ‘reis’ no seu “tempo do fim”.
A expressão “tempo do fim” não significa ‘fim do tempo’, mas indica um período que culmina no fim ou destruição, não de todas as coisas, mas das coisas mencionadas na profecia. As Escrituras esclarecem que o tempo em si não findará. Por exemplo, o salmista disse a respeito da terra: “Não será abalada, por tempo indefinido ou para todo o sempre.” (Sal 104:5) Visto que a terra continuará a existir, conclui-se necessariamente que o tempo, como “dimensão” ou medida terrestre, não cessará. Embora seja verdade que Revelação (Apocalipse) 10:6 possa ser traduzido por “não haverá mais tempo”, o contexto indica que isto significa nenhuma concessão adicional de tempo; assim, termina um período específico ou concedido de tempo. (BJ) Outras versões, portanto, rezam: “Não haveria mais demora.” (Al, IBB) “Não haverá mais demora.” (NM) Comentando este texto, A. T. Robertson observa: “Isto não significa que chronos (tempo) . . . deixará de existir, mas somente que não haverá mais demora no cumprimento da sétima trombeta (versículo 7 ), em resposta à pergunta: ‘Até quando?’ ( 6:10).” — Word Pictures in the New Testament (Quadros Verbais no Novo Testamento), 1933, Vol. VI, p. 372.



sábado, 19 de julho de 2014

"Filme sobre as Testemunhas de Jeová"

Dois Mundos - Crítica ao filme "To Verdener"


                                                                                                                                                         Todos sabemos que o mundo das grandes telas, o cinema, sempre foi defato uma maravilha surpreendente, não é

a toa que ele foi considerado como uma arte, a sétima arte como tem sido designado.
Até mesmo Charles Taze Russell, segundo consta foi um dos pioneiros na sincronização de diapositivos em coresassociados a sons de vozes, dando um vislumbre do que hoje para nós é tão corriqueiro, o cinema.

Porém, é lamentável como hoje em dia temos visto uma enxurrada cada vez maior de filmes desprovidos de qualquer
méritos e com péssimos roteiros, estórias que de tão minguadas, servem como um bom sedativo para insônia.

To Verdener realmente tem um lugar de destaque nesta prateleira de filmes água com açúcar, dignos do despertar
ao acender das luzes da sala.
Não por se tratar de um filme baseado segundo se diz, numa história real vivida por uma Jovem criada numa família de Testemunhas de Jeová, religião que há muito tem sofrido os mais terríveis atos vís de perseguição, mas sim por ser um tanto quanto tendencionista e parcial na forma patética com que tentam passar a imagem de uma Jovem Testemunha de Jeová.

Não há necessidade de se debruçar em explicações sobre o filme, nem tampouco de assisti-lo, pois o que se pode saber da Wikipedia já é o suficiente para quando diante do filme, optar por uma boa animação da Dreamworks.

"A jovem do filme, chamada Sara, conhece o namorado, de nome Teis, numa festa em que foi convidada por uma de suas amigas da religião. Ela perde o trem que a levaria de volta à casa e acaba dormindo na casa de Teis, onde o romance ganha forças, mas nada de mais íntimo acontece entre eles.
Depois de descoberto o namoro, Sara participa de "Comissões Judicativas" nas Testemunhas de Jeová, onde acaba por ser "desassociada" (deixa de ser reconhecida como Testemunha de Jeová) da religião. O drama acaba por Sara terminando com Teis e se tornando atéia."

Então? O filme é decepcionante, mas muito aclamado por religiosos no mundo todo, principalmente aqueles que são inimigos religiosos declarados das Testemunhas de Jeová, pois ficam extasiados ao chegar ao final do filme, e ver Sara, nome da personagem no filme, sentir-se liberta por se declarar em pensamento: "JEOVÁ DEUS, ESTA É A ÚLTIMA VEZ QUE NOS FALAMOS, POR QUE EU NÃO CREIO MAIS EM VOCÊ"




A Filha abandona o Pai que só queria o bem dela, um Pai que desejava o melhor para sua filha e que foi como tantos outros no mundo, mal compreendido e abandonado.




   
















O pai apenas pode observar a ingratidão de uma filha que não soube entender a dor e preocupação de um Pai.






E por fim a mais descabida e contraditória parte do
filme, a atéia que ora a Jeová declarando que não mais acredita nele.













Assim, o que nós como Testemunhas de Jeová temos a dizer é : Um filme barato, com um conteúdo pobre, que isola um caso e o transmite de forma muito tendenciosa, em nenhum momento se mostra o verdadeiro lado das Testemunhas tendo destaque, o viver feliz, a amizade e o amor que existe entre elas.

Uma triste heresia, com grande apreciação por parte de Satanás e seus adeptos. Um ponto que desejamos destacar no filme é o momento em que Sara recebe a visita dos anciãos na casa em que mora escondida com Teis, momento igualmente que passa uma visão distorcida da maneira em que anciãos contatam os que eles procuram visitar para aconselhar, pois nunca há visitas surpresas.

Neste trecho podemos destacar que deve ter e mente que todos temos a liberdade de decidir que caminho seguir e que realmente ninguém pode de forma alguma dominar nas decisões de quem quer que seja.
Os anciãos destacam que "O NOME DE JEOVÁ", está sendo desonrado, ou seja, enquanto ela permanece ligada a congregação, deve cuidar como sua conduta afetará a boa reputação da congregação, ao passo que após o desligamento como membro (dissociação/desassociação) a pessoa passa a ser deixada a seguir sua decisão, o que os anciãos desejam, é apenas fornecer uma ajuda, uma mão amiga, em caso de rejeição obstinada, nada mais se faz se não aplicar a desassociação do membro da congregação, ação disciplinar na qual fica declarado que tal pessoa, depois de sucessivas tentativas de contatação e aconselhamento, rejeitou tais ajudas e, inflexivelmente está disposta a continuar no seu proceder independente, sendo definitivamente afastada da associação a qual um dia ela fazia parte.

Uma ação que na maioria dos casos, é revertida quando a pessoa se arrepende de suas ações e faz as devidas mudanças, demonstrando que deseja retornar a associação, no que se da sua readmissão.

quinta-feira, 10 de julho de 2014

"É melhor morrer do que trair as próprias convicções"

Sangue - Morrer ou trair convicções?



"É melhor morrer do que trair as próprias convicções"

Com essa frase como cabeçalho começa um interessante relato sobre pessoas que, em face da morte, preferiram renunciar às suas vidas do que trair princípios que advogavam. Esse relato, contido no livro de 2 Macabeus, capítulo 6, versículos 18-31, conta a história real de pessoas que passaram por esta situação confrontadora, e souberam corajosamente dar um excelente testemunho. Embora o referido livro não seja considerado canônico (inspirado por Deus), ele é comprovadamente correto em sentido histórico, pois relata o período pós-exílico, de dominação da Palestina pelo governante greco-selêucida Antíoco Epifânio (cerca de 180 AEC a 160 AEC). Para maiores informações, veja-se Estudo Perspicaz, vol.1, pg. 151-156, sob o verbete "Apócrifos"; também o artigo "Quem eram os Macabeus?", em A Sentinela, 15/11/1998, pg. 21-24.
      

      Esse relato, extraído da versão bíblica católica Edição Pastoral (21ª edição, 1997) começa da seguinte maneira:
       "Eleazar era um dos principais doutores da Lei, homem de idade avançada, mas com rosto de traços ainda belos. Queriam obriga-lo a comer carne de porco, enfiando-a boca adentro. Ele, porém, que preferia morte honrada a viver envergonhado, dirigiu-se espontaneamente para a tortura do tímpano, tendo antes cuspido fora o que lhe estava na boca. Assim é que devem fazer os que corajosamente querem resistir ao que não é permitido comer, nem mesmo por amor à própria vida. Os que dirigiam esse sacrifício proibido, velhos amigos de Eleazar, o chamaram de lado e lhe propuseram que pegasse carne permitida, por ele mesmo preparada, fingindo que comia a carne do sacrifício ordenado pelo rei. Se ele assim fizesse, estaria livre da morte e, pela antiga amizade que havia entre eles, o tratariam com benevolência. Ele, porém, tomou uma nobre decisão, coerente com a sua idade e com o respeito da velhice, coerente com a dignidade de seus cabelos brancos e com a vida correta que levava desde a infância; acima de tudo, coerente com as santas leis dadas pelo próprio Deus. Ele respondeu prontamente: "Podem mandar-me para a mansão dos mortos. Em minha idade não fica bem fingir, senão muitos dos mais moços pensarão que um velho de noventa anos chamado Eleazar passou para os costumes estrangeiros. Com o seu fingimento, por causa de um pequeno resto de vida, eles seriam enganados, e eu só ganharia mancha e desprezo para a minha velhice. Ainda que no presente eu me livrasse do castigo humano, nem vivo nem morto conseguiria escapar das mãos do Todo-Poderoso. É por isso, que se eu passar corajosamente para a outra vida ("se eu morrer", versão Ave-Maria), me mostrarei digno da minha idade. Para os mais moços posso deixar um exemplo honrado, mostrando como se deve morrer corajosa e dignamente pelas veneráveis e santas leis". Dito isso, foi imediatamente para o suplício.
       Os seus torturadores, que pouco antes queriam ser amáveis com ele, então se tornaram cruéis por causa do que ele dissera, ao considerar tudo aquilo uma loucura. Já quase morto, em meio às torturas, Eleazar ainda falou entre gemidos: "O Senhor, que possui a santa sabedoria, sabe que eu, podendo escapar da morte, suporto em meu corpo as dores cruéis da tortura, mas em minha alma estou alegre, por que sofro por causa do temor a ele". E assim passou desta para a outra ("terminou sua vida", versão Ave-Maria). Sua morte deixou, não só para os jovens, mas também para todo o restante do povo, exemplo memorável de heroísmo e virtude."

       Interessante e digno de nota é, que no comentário deste relato, ao rodapé, nos é dito:       "18-31: Eleazar é o modelo da resistência. De que adianta prolongar a vida, se para isso é necessário trair as próprias convicções? A geração presente educa a geração futura. O que podem os jovens de amanhã esperar, se a geração de hoje se acovarda e se acomoda diante dos desafios para construir uma sociedade mais justa e fraterna? Em tempos de perseguição, o valor humano se mede, não pela duração da vida, mas pela integridade do testemunho". (grifo acrescentado)

       Seria fácil se ter o raciocínio naquela época: "O que custa comer só um pouquinho da carne de porco?", afinal, é para salvar a vida!" Mas o fato é que Eleazar estava preocupado em como isso poderia refletir sobre a Lei dada por Deus e seu relacionamento com Ele. (Deuteronômio 14:8)
       O paralelo é válido também para o caso do sangue, que ao contrário da lei mosaica sobre a abstinência de carne de porco, não foi abolida para os cristãos. (Atos 15:28,29). Se algo tão aparentemente irrelevante como comer carne de porco foi considerada tão séria por alguns israelitas, lei essa que depois foi abolida, que dirá então quando se refere ao sangue, cuja lei foi ratificada e continuada pelos cristãos? E quando essa lei envolve outros, especialmente os filhos? 

       
Nesse mesmo livro, de 2 Macabeus, cap. 7, vers. 1-42, da mesma versão bíblica, é citado o caso de uma mãe e seus sete filhos, envolvidos na mesmíssima questão de Eleazar. Vejamos o relato, sob o comentário "O testemunho dos mártires":

      
 "Aconteceu também que sete irmãos foram presos junto com sua mãe. Espancando-os com relhos e chicotes, o rei pretendia obrigá-los a comer carne de porco, que era proibida. Um deles, falando em nome dos outros, disse: "O que você quer perguntar ou saber de nós? Estamos prontos a morrer, antes que desobedecer às leis de nossos antepassados". Enfurecido, o rei mandou esquentar assadeiras e caldeirões. Logo que ficaram quentes, mandou cortar a língua, arrancar o couro cabeludo e decepar as extremidades daquele que tinha falado pelos outros, e tudo diante dos irmãos e da mãe. Já mutilado de todos os membros e enquanto ainda vivia, o rei mandou que o pusessem no fogo para assar. Da assadeira subia grande volume de fumaça. E os seus irmãos com a mãe se animavam entre si para enfrentarem corajosamente a morte, dizendo: "O Senhor Deus nos observa e certamente terá compaixão de nós, conforme afirmou claramente Moisés no seu cântico: 'Ele terá compaixão de seus servos'". 


       Depois que o primeiro passou desta para a outra ("morreu", versão Ave-Maria), levaram o segundo para a tortura. Após lhe arrancarem o couro cabeludo, perguntaram: "Você vai comer, antes que seu corpo seja torturado membro por membro?" Ele, porém, respondeu na sua língua materna: "Não". Por isso, foi submetido às mesmas torturas do primeiro. Antes de dar o último suspiro, ainda falou: "Você, bandido, nos tira desta vida presente, mas o rei do mundo nos fará ressuscitar para uma ressurreição eterna de vida, a nós que agora morremos pelas leis dele".
       Depois desse, também o terceiro foi levado para a tortura. Intimado, colocou imediatamente a língua para fora e apresentou corajosamente as mãos, dizendo com dignidade: "De Deus eu recebi esses membros, e agora, por causa das leis dele, eu os desprezo, pois espero que ele os devolva para mim". O rei e aqueles que o rodeavam ficaram admirados da coragem com que o rapaz enfrentava os sofrimentos, como se nada fossem. 

       Passado também esse à outra vida ("Morrido esse também", versão Ave-Maria), começaram a torturar da mesma forma o quarto irmão. Estando para morrer, ele falou: "Vale a pena morrer pela mão dos homens, quando se espera que o próprio Deus nos ressuscite. Para você, porém, não haverá ressurreição para a vida".
       Imediatamente apresentaram o quinto e passaram a torturá-lo. Olhando bem para o rei, ele afirmou: "Mesmo sendo simples mortal, você faz o que quer, porque tem poder sobre os homens. Mas não pense que o nosso povo foi abandonado por Deus. Espere um pouco, e verá como o grande poder dele vai torturar você e sua descendência".
       Depois desse, trouxeram também o sexto. Quando estava morrendo, ele ainda falou: "Não se iluda! Nós estamos sofrendo tudo isso por nossa culpa, porque pecamos contra o nosso Deus. Por isso nos acontecem essas coisas espantosas. Quanto a você, que se atreveu a lutar contra Deus, não pense que ficará sem castigo".

       Extraordinariamente admirável, porém, e digna da mais respeitável lembrança, foi a mãe. Ela, vendo morrer seus sete filhos num só dia, suportou tudo corajosamente, esperando no Senhor. Ela encorajava cada um dos filhos, na língua dos seus antepassados. Com atitude nobre, e animando sua ternura feminina com força viril, assim falava com os filhos: "Não sei como vocês apareceram no meu ventre. Não fui eu que dei a vocês o espírito e a vida, nem fui eu que dei forma aos membros de cada um de vocês. Foi o Criador do mundo, que modela a humanidade e determina a origem de tudo. Ele, na sua misericórdia, lhes devolverá o espírito e a vida, se vocês agora se sacrificarem pelas leis dele". 

       Antíoco pensou que a mulher o enganava e desconfiou que ela o estava insultando. Restava, porém, o filho mais novo. E o rei tentava convencê-lo, e até lhe garantiu, sob juramento, que, se renegasse as tradições dos antepassados, ele o tornaria rico e feliz, o teria como amigo e lhe daria cargos importantes. Entretanto, o menino não lhe deu a menor atenção. Por isso, o rei chamou a mãe e pedia que ela aconselhasse o menino para o próprio bem dele. Depois de muita insistência do rei, ela aceitou falar com o filho. Abaixou-se e, enganando esse rei cruel, usou a língua dos antepassados e falou assim: "Meu filho, tenha dó de mim. Eu carreguei você no meu ventre durante nove meses. Eu amamentei você por três anos. Eduquei, criei e tratei você até esta idade! Meu filho, eu lhe imploro: olhe o céu e a terra, e observe tudo o que neles existe. Deus criou tudo isso do nada, e a humanidade teve a mesma origem. Não fique com medo desse carrasco. Ao contrário, seja digno de seus irmãos e enfrente a morte. Desse modo, eu recuperarei você junto com seus irmãos, no tempo da misericórdia". 

       Apenas ela acabou de falar, o rapazinho disse: "O que vocês estão esperando? Eu não obedeço às ordens do rei. Obedeço às determinações da Lei que foi dada a nossos antepassados através de Moisés. Quanto a você, que está procurando fazer tudo o que há de mau aos hebreus, você não vai conseguir escapar das mãos de Deus. Nós estamos sofrendo por causa de nossos pecados. Por um pouco de tempo, o Senhor vivo está irado conosco e nos castiga e nos corrige, mas ele voltará a se reconciliar com os seus servos. Quanto a você, ímpio e pior criminoso do mundo, não fique se exaltando à toa ou gritando esperanças que não tem fundamento, enquanto ergue as mãos contra os servos do Céu. Você ainda não escapou do julgamento do Deus Todo-Poderoso, que tudo vê. Depois de suportar um sofrimento passageiro, os meus irmãos já estão participando da vida eterna, na aliança com Deus. Em troca, no julgamento de Deus, você receberá o castigo justo por sua soberba. 

      Quanto a mim, da mesma forma que meus irmãos, entrego o meu corpo e a minha alma em favor das leis de meus antepassados, suplicando que Deus se compadeça logo do meu povo. Enquanto isso, você, à custa de castigos e flagelos, terá de reconhecer que ele é o único Deus. Suplico que a ira do Todo-Poderoso, que se abateu com toda a justiça contra o seu povo, se detenha em mim e em meus irmãos".
       O rei, sentindo-se envenenado pelo sarcasmo, ficou furioso, e tratou o menino com crueldade ainda mais feroz do que fizera com os outros. E o menino morreu sem mancha, confiando totalmente no Senhor.
       A mãe morreu por último, depois dos filhos. 
       Por hora, basta o que contei sobre as refeições sacrificiais e as incríveis crueldades."

      Também nos é dito em comentário a esses versículos, no rodapé:

      
 "7: 1-42: É uma das páginas mais comoventes de toda a Bíblia, mostrando que o tempo de perseguição se torna ocasião de educar para o testemunho capaz de enfrentar até o sacrifício da própria vida. Aqui aparece, pela primeira vez e com clareza, a crença na ressurreição: esta se baseia na compaixão de Deus para com seus fiéis (v. 6), no poder de Deus que do nada e da morte é capaz de criar a vida (vv. 28,29), e na aliança de Deus com o seu povo, que jamais será rompida. (v. 36). A fé na ressurreição, porém, aparece em contexto difícil, onde a pessoa é chamada a dar a sua própria vida em favor do povo (v. 38). O texto também deixa claro que os mártires são testemunhas radicais da verdade. A coragem de entregar a própria vida liberta a língua para mostrar o verdadeiro porte do perseguidor: este, na verdade, está lutando contra o próprio Deus e é, portanto, o maior criminoso do mundo (v. 19). A fé na ressurreição não é neutra: Deus ressuscita os justos para vida; quanto aos injustos, não ressuscitarão para a vida (v. 14): seu destino é a morte definitiva." (grifo acrescentado)


       Imaginem em que situações conflitantes foram postos os filhos e a mãe: Salvar a vida, violando uma lei de Deus, ou perdê-la por se ater aos princípios? Se fosse você, com seus filhos, o que faria? E se fosse testemunha ocular, o que pensaria do episódio? Acharia fanatismo da parte dos filhos e da mãe? Seria extremismo da parte deles não comer carne de porco e perder a vida a duras penas?
       Com certeza, com respeito a lei de Deus sobre o sangue é de maior valor, pois ainda perdura até os dias de hoje, conforme se nota em Revelação 2:24,25 (NM), que diz:

       
"No entanto, digo aos demais de vós, os que estais em Tiatira, a todos os que não têm este ensino, aos mesmos que não chegaram a conhecer as "coisas profundas de Satanás", conforme eles dizem: NÃO PONHO SOBRE VÓS NENHUM OUTRO FARDO. Assim mesmo, APEGAI-VOS AO QUE TENDES ATÉ QUE EU VENHA." (O grifo é nosso)

       Obviamente amamos a vida e a nossos filhos, e fazemos o possível para que sejam assegurados a vida e a saúde, porém, não em detrimento da obediência ao mandamento bíblico. No entanto, realisticamente olhado no paralelo traçado com o relato, recorrer a transfusões de sangue mesmo debaixo das circunstâncias mais extremas não é verdadeiramente salvar vidas. Pode resultar no prolongamento imediato e muito temporário da vida, mas isso às custas da vida eterna para um cristão dedicado. E ainda pode trazer morte repentina, e essa para sempre. (Mateus 10:39) Quão melhor é obedecer à lei de Jeová Deus, a Fonte da vida, e abster-se de sangue do que incorrer em sua desaprovação como transgressor, assim como pensavam Eleazar e aquela família, mãe e filhos. Em todas as ocasiões, e certamente quando as forças vitais de alguém estão minguando, o proceder sábio é depositar confiança Naquele em cujas mãos descansa o poder da vida. Deus não abandonará os que amorosamente obedecem a seus mandamentos concernentes à santidade da vida. Ele recompensará a confiança deles nos meios divinos de salvação estendendo-lhes os benefícios vitalizadores do sangue do seu Filho - benefícios que os sustentarão, não por meros dias ou anos, mas para sempre. Sabem que ninguém que confia em Jeová Deus e em seu Filho já glorificado "de maneira nenhuma será desapontado" - 1 Pedro 2:6.
       Mesmo que o sangue pudesse ser administrado absolutamente sem perigo do ponto de vista médico - o que não pode ser feito - demonstraria amor ao paciente insistirem outros que o aceite num esforço de se estender sua presente vida, quando a desobediência a Deus significa o confisco da recompensa da vida sempiterna? Não! Este é um tempo em que todas as pessoas interessadas, quer médicos, amigos ou parentes, podem demonstrar seu sincero empenho pelo paciente e seu temor a Deus encorajando esse a se apegar à sua fé, não temer, mas confiar em Deus, que é Todo-poderoso.
       Os homens sem fé em Deus argúem que os princípios da retidão e as leis, não importa quão bons, podem ser postos de lado quando a vida de uma pessoa está em jogo. Até líderes religiosos se juntam em arguir que a aplicação das leis de Deus podem ser suspensas para salvar uma vida. Mas isso não é arrazoamento piedoso, como comprovado pelo caso de Eleazar, que era 'doutor da Lei'. Isso só encontra base na acusação feita por Satanás, o Diabo, quando disse a Deus: "Tudo quanto o homem tem dará pela sua vida". (Jó 2:4, ARA) Satanás, estava confiante de que os homens abandonariam a Deus quando a obediência parecesse pô-los em risco pessoal. Porém, ele é mentiroso! E homens de fé em todas as épocas o tem provado. O fiel Davi não realizaria um ato que sequer sugerisse uma violação da proibição de Deus sobre o consumo de sangue. Os primitivos cristãos preferiam morrer a comprar sua liberdade mediante a negação de sua fé. E as atuais Testemunhas de Jeová, confrontadas com um debate que envolve o mais difundido uso errado de sangue na história humana, juntam-se em declarar que elas também se apegarão à sua integridade a Deus. Por sua fidelidade crêem que Deus as recompensará, até levantando-as da morte, com vida sempiterna de vigorosa saúde em seu justo novo mundo.

OBS: Para uma leitura on-line dos versículos de 2 Macabeus, citados neste texto, queira por favor acessar o linklogo abaixo:
     

Também, saiba mais sobre a legitimidade da recusa de transfusões! Queira ver o site do Professor e Mestre em Direito, Dr. Wilson Ricardo  Ligiera (autor do livro "Responsabilidade Médica Diante da Recusa de Transfusão de Sangue", entre outros), cujo link é http://www.ligiera.com.br/livros/portugues.htm        

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Desassociação e Dissociação

Desassociação e Dissociação

DISCIPLINA NA CONGREGAÇÃO CRISTÃ: 

LEGITIMIDADE DA DESASSOCIAÇÃO, DISSOCIAÇÃO E SUAS
IMPLICAÇÕES.





“Nenhuma disciplina parece no momento ser motivo de alegria, mas sim de pesar; no entanto, depois dá fruto pacífico, a saber, a justiça, aos que têm sido treinados por ela.” — Hebreus 12:11





A desassociação (também conhecida como excomunhão, expulsão ou desligamento, conforme algumas denominações) é a punição religiosa disciplinadora, utilizada para se excluir ou suspender um crente associado de uma comunidade religiosa que tenha cometido infração e ofensa séria.Em algumas religiões, excomunhão inclui condenação espiritual do membro ou grupo. Inclui também diversas sanções, que 
acarreta em banimento do crente e cerceamento de seus privilégios congregacionais, também deixar de ser considerado membro ou associado de uma comunidade ou organização, e isso somente após a aplicação de disciplina educativa, que é rejeitada pelo errante.  
  
No caso de sociedades religiosas, é um princípio e um direito inerentes a elas, e é equivalente aos poderes de pena capital, de banimento e de exclusão do rol de membros, exercidos por entidades políticas ou municipais. 

Na congregação cristã é exercida, por exemplo, para preservar sua pureza e unidade doutrinal e moral.

A prática é considerada necessária em algumas religiões, incluindo as não-cristãs, com o objetivo de disciplinar e manter coesa sua associação de filiados. As penas impostas variam  de religião para religião, chegando até mesmo a incluir a pena de morte, no caso de apostasia para os muçulmanos sauditas, por exemplo. Torturar e executar desassociados não são atitudes cristãs, mas segundo a Bíblia, eles devem ser removidos da congregação. Aos olhos de alguns leitores e observadores modernos, a prática da desassociação pode parecer uma atitude arbitrária e insensível. No entanto, os primeiros cristãos prezavam muito a obediência aos ensinamentos de Cristo e acreditavam que a fé e os padrões morais eram mais importantes que a tolerância.

A desassociação na primitiva congregação cristã – por que era necessária?

A legitimidade da desassociação encontra base bíblica em várias passagens. Uma delas, em  Mateus 18:17, Jesus disse: "Se não os escutar, fala à congregação. Se não escutar nem mesmo a congregação, seja ele para ti apenas como homem das nações e como cobrador de impostos"
O apóstolo Paulo, em 1 Coríntios, capítulo 5, instrui os coríntios a expulsarem os membros imorais da sua congregação.

As Escrituras Gregas Cristãs, baseadas nos princípios das Escrituras Hebraicas, por ordem expressa e por precedente, autorizam a expulsão, ou desassociação, da congregação cristã. A congregação, por exercer esta autoridade dada por Deus, mantém-se limpa e em boa situação perante Deus. O apóstolo Paulo, com a autoridade de que fora investido, ordenou a expulsão dum praticante de fornicação, que tomara a esposa de seu pai. (1 Coríntios 5:5, 11, 13) Exerceu também contra Himeneu e Alexandre a autoridade de os desassociar. (1 Timóteo 1:19, 20) Diótrefes, porém, evidentemente tentava usar de modo errado a desassociação. — 3 João 9, 10.

Algumas das transgressões que podem fazer com que alguém seja desassociado da congregação cristã são fornicação, adultério, homossexualismo, ganância, extorsão, furto, mentira, bebedice, injúria, prática de espiritismo, assassinato, idolatria, apostasia e causar divisões na congregação. (1 Coríntios 5:9-13; 6:9, 10; Tito 3:10, 11; Revelação 21:8) 

Aquele que promove uma seita é misericordiosamente advertido uma primeira e uma segunda vez, antes de se tomar a ação de desassociá-lo. Na congregação cristã, aplica-se o princípio estipulado na Lei, a saber, que duas ou três testemunhas têm de confirmar a evidência contra o acusado. (1 Timóteo 5:19) Os condenados de uma prática de pecado são repreendidos biblicamente perante os “espectadores”, por exemplo, aqueles que deram testemunho a respeito da conduta pecaminosa, para que todos estes também tenham temor salutar e não pratiquem tal pecado. — 1 Timóteo 5:20

Entretanto, a respeito daquele que era cristão, mas que mais tarde repudiou a congregação cristã ou foi expulso dela, o apóstolo Paulo ordenou: ‘Cessai de ter convivência com’ tal; e o apóstolo João escreveu: “Nunca o recebais nos vossos lares, nem o cumprimenteis.” — 1 Coríntios 5:11; 2 João 9, 10.

Os expulsos podem ser novamente recebidos na congregação, se manifestarem sincero arrependimento. (2 Coríntios 2:5-8) Isto também é uma proteção para a congregação, impedindo que ela seja sobrepujada por Satanás, passando do extremo de tolerar a transgressão para o outro extremo de se tornar dura e implacável. — 2 Coríntios 2:10, 11.




Uma representação do Papa Gregório IX 
aplicando uma excomunhão.










O precedente para a desassociação

De acordo com a Lei Mosaica, alguém podia ser morto por violações graves ou propositais da lei de Deus. (Levítico 7:27; Números 15:30, 31) Por exemplo,  apostasia,  idolatria, adultério, comer sangue e o assassinato estavam entre os delitos que acarretavam esta penalidade. 
— Deuteronômio 13:12-18; Levítico 20:10; 17:14; Números 35:31.

Mesmo assim, para se executar a pena de morte, era necessário haver evidência apresentada por pelo menos duas testemunhas. (Deuteronômio 19:15) Era exigido que as testemunhas fossem as primeiras a apedrejar o culpado. (Deuteronômio 17:7) Isto era necessário para se demonstrar seu zelo pela lei de Deus e pela pureza da nação de Israel, e também para desencorajar o testemunho falso, descuidado ou precipitado.

Durante o ministério de Jesus, as sinagogas serviam também de tribunais locais para julgar violadores da lei judaica. O Sinédrio era o tribunal de maior instância. Sob o domínio romano, os judeus não tinham o grau de autoridade que haviam usufruído sob o governo teocrático. Mesmo quando o Sinédrio julgava alguém merecedor da morte, nem sempre podia executar a sentença de morte, por causa das restrições impostas pelos romanos. As sinagogas judaicas tinham um sistema de excomunhão, ou de desassociação, de três passos ou três nomes. O primeiro passo era a pena de niddúy, uma disciplina de duração curta, inicialmente de apenas 30 dias. Quem sofria esta pena era proibido de usufruir certos privilégios. Podia ir ao templo, mas ali sofria certas restrições, e todos, fora da sua própria família, tinham ordens de se manter afastados 4 côvados (cerca de  2 metros) dele. O segundo passo era hhérem, que significava algo devotado a Deus ou proscrito. Era um julgamento mais severo, pois o ofensor não podia ensinar, nem ser ensinado, em companhia de outros, nem podia fazer transações comerciais além da compra das necessidades da vida. Entretanto, não era totalmente expulso do judaísmo, e havia a possibilidade dele voltar. Finalmente, havia shammattá’, seu decepamento total da congregação.

Alguém expulso como iníquo era considerado merecedor de morte, embora os judeus talvez não tivessem a autoridade de executá-lo. No entanto, a forma de decepamento que usavam era uma arma muito poderosa na comunidade judaica.  Jesus predisse que seus seguidores seriam expulsos da sinagoga. (João 16:2) O medo de serem expulsos, ou “excomungados”, impediu alguns judeus, até mesmo governantes, de professar sua fé em Jesus. (João 9:22, nota na NM; também 12:42) Ser expulso da sinagoga (em grego άποσυναγωγος , aposunagogos) envolvia a proibição não só de frequentar a sinagoga, mas de toda comunhão com os israelitas. Um exemplo de tal ação por parte da sinagoga foi o caso do cego curado no reservatório de Siloé, que falou em favor de Jesus, que foi “lançado fora”. — João 9:34.

Durante o seu ministério terrestre, Jesus deu instruções sobre o proceder a ser adotado caso 
se cometesse contra alguém um pecado grave, mas o pecado fosse de natureza tal que, se corretamente resolvido, não precisaria envolver a congregação judaica. (Mateus 18:15-17) Incentivou fazer-se um esforço sério para ajudar o transgressor, ao mesmo tempo também resguardando esta congregação de persistentes pecadores. A unica congregação de Deus em existência naquele tempo era a congregação de Israel. ‘Falar à congregação’ não significava que a nação inteira, ou mesmo todos os judeus em determinada comunidade, julgavam o transgressor. Esta responsabilidade cabia a anciãos dos judeus. (Mateus 5:22) O transgressor que se negasse a acatar mesmo esses responsáveis, devia ser considerado “apenas como homem das nações e como cobrador de impostos”, cuja associação, os judeus evitavam. — Veja Atos 10:28.

Entendendo as expressões que inferem ou aludem à desassociação

Nas Escrituras Cristãs, são utilizadas várias expressões que nos mostram que a prática de rejeição era amplamente usada, conforme veremos a partir de agora, e que estudaremos à parte. Por exemplo, “lançar fora”, “entregar a Satanás”, “remover o iníquo” são algumas delas. 
Podemos relacioná-las à prática da desassociação? 

Vejamos:

- “Seja ele... como homem das nações e como cobrador de impostos"Essa expressão nos ensina muito sobre o tipo de tratamento envolvido. Usaremos como referência para compreendermos isso o Dicionário Bíblico Vida Nova, que nos informa sobre como era tratado um homem das nações (gentio), conforme segue: “... Isso levou a uma atitude tão excludente que, na época de Jesus, estigmatizar um irmão judeu como 'gentio' era expressão 
de grande desprezo (Mt 18.17).” Veja também como era encarado um cobrador de impostos (publicano): “Alguém... autorizado para coletar impostos... em favor dos romanos… O sistema dava margem a abusos e parece que, desde o início, os cobradores eram propensos a extorsões e malversação. …Os publicanos eram odiados e desprezados pelos judeus, não só pela extorsão, como também porque o contato com os gentios os tornava cerimonialmente impuros.” (págs. 144, 305, grifos acrescentados).


- Lançar fora: Expressão originária do grego eksebalon (derivado de ekballo), que segundo a Concordância Bíblica Exaustiva de Strong, p. 1358, significa literalmente “expulsar, expelir, mandar sair... expelir uma pessoa de uma sociedade, banir de uma família... rejeitar com desprezo”. Ocorre em textos tais como Lucas 6:22; João 9:34 e 3 João 10.

- Entregar a Satanás: Essa expressão, derivada do grego paredoka (derivado de paradidomi) to satana, ocorre em passagens tais como 1 Coríntios 5:5 e 1 Timóteo 1:20. Sobre o primeiro texto aqui citado, 1 Corintios 5:5, e à sua aplicação, note como um famoso erudito bíblico comenta tal passagem: “O apóstolo nota um abuso flagrante... a falsa noção da liberdade cristã parecem ter salvado o feitor da censura...  as falsas doutrinas tendem a produzir e disseminar tais escândalos. O mal exemplo de um homem influente é muito danoso: espalha-se por todas partes. Os princípios e exemplos corruptos danificam toda a igreja se não são corrigidos. ...Os cristãos devem evitar a familiaridade com os que desprestigiam o nome cristão. Os tais são companhia apta para seus irmãos de pecado, e nessa companhia devem ser deixados, cada 
vez que seja possível fazê- lo. Ai, quão lamentável é que haja tantos chamados cristãos cuja conversação é mais perigosa que a dos pagãos!” (Comentário Matthew Henry, p. 192, grifo acrescentado). Ademais, sobre o texto de 1 Timóteo 1:20, o mesmo autor comenta: “A intenção das censuras mais elevadas da igreja primitiva foi prevenir mais o pecado e reclamar o pecador. Todos os que estejam tentados a eliminar a boa consciência e a abusar do Evangelho, lembrem também que este foi o caminho ao naufrágio da fé.” (p. 253). 

Igualmente, F. Davidson, autor do livro “O Novo Comentário da Bíblia” (a partir daqui abreviado por 'NCB'), também faz uma observação notável sobre o texto supracitado, conforme segue: “Porque alguns têm falhado exatamente nisto, afastando de si, deliberadamente, a boa consciência a que se deviam firmar, é que naufragaram quanto à fé cristã e se tornaram heréticos na doutrina. ...O erro deles é tão blasfemo que para o seu próprio bem tiveram de ser severamente disciplinadosEntreguei a Satanás (20); cfr. Jó 2.6; 1Co 5.5. Parece tratar-se de excomunhão. Colocando se tais pessoas fora da esfera do reino ou proteção de Cristo ficavam elas expostas ao domínio de Satanás...” (pg. 2222, grifo acrescentado).

Com isso, percebemos que tais transgressores eram apropriadamente 'entregues a Satanás', indicando que deixavam de gozar de privilégios espirituais e que estavam agora sujeito às adversidades decorrentes de não mais fazer parte da família cristã e por perderem o favor de Deus e a proteção espiritual, ficando totalmente vulneráveis e expostos a influência satânica.

É o 'Tomar nota' de 2 Tessalonicenses 3:14,15 o mesmo que desassociar?

Não, tomar nota não é desassociar.  Depreendemos isto da simples leitura do versículo, em seu contexto. O livro NCB, pg. 2213, corrobora isso quando nos diz que “Paulo não ordena aqui uma excomunhão formal, mas recomenda uma prática reprovação dos preguiçosos, para que se envergonhem e mudem seus costumes. Tais pessoas não devem ser tratadas como inimigas (vers. 15), nem "como gentios ou publicanos" (Mt 18.17). Ainda são irmãos, membros da comunidade cristã, que deviam aceitar a disciplina fraternal.” (grifo acrescentado).

Tal 'reprovação' e 'disciplina fraternal' consistia meramente numa advertência e também envolvia alguma eventual restrição, podendo até mesmo acarretar em limitação pela amizade por parte de alguns que assim o julgasse necessário (Veja também Romanos 16:17; 2 Tessalonicenses 3:6). A congregação cristã é também admoestada pelas Escrituras a parar de se associar socialmente com aqueles que são desordeiros e que não andam corretamente, mas que não são considerados merecedores duma expulsão total. Paulo escreveu à congregação tessalonicense a respeito de tais: “Parai de associar-vos com ele, para que fique envergonhado. Contudo, não o considereis como inimigo, mas continuai a admoestá-lo como irmão.” — 2 Tessalonicenses 3:6, 11, 13-15.

Quem tem hoje autoridade para desassociar?

Um dos primeiros textos cristãos onde podemos enco ntrar diretrizes claras sobre a desassociação é Mateus 18:17. A bem da consistência, transcrevemos o texto para sua apreciação e compreensão: “Se não os escutar, fala à congregação (gr. ekklesia).   Se não escutar nem mesmo à congregação, seja ele para ti apenas como homem das nações e como cobrador de impostos.” (grifo acrescentado).

A quem se referia o Senhor Jesus quando disse: “Fala à congregação”? Quem seria? Todos os cristãos que ali congregassem? Sabemos que, no primeiro século, anciãos (ou superintendentes) cristãos tomavam a dianteira em todas as congregações cristãs, e eram eles que 'governavam' seus assuntos (Hebreus 13:7,17; Al; veja também nota de rodapé na NM com referências). 

De modo que depreendemos disto que os superintendentes (gr. episkópos; hebr. peqidhím)congregacionais  representavam a inteira congregação cristã, eram os responsáveis por ministrar a disciplina necessária, cuja autoridade havia sido  instituída por nosso Senhor Jesus. 
Sobre isso, escreveu Derek Williams em seu “Dicionário Bíblico Vida Nova” (ed. brasileira), pg. 124, verbete 'Excomunhão': “... a igreja exerce disciplina por intermédio de seus representantes (Mt 18.15 ss)”.  - grifo acrescentado. Portanto, quando Cristo disse que a vítima devia 'falar à congregação', isso significaria falar a seus representantes, os superintendentes (ou anciãos) congregacionais.

Que isso é fato, podemos constatar também que no texto em hebraico do 'Novo Testamento' das 
Sociedades Bíblicas Unidas, revisão de 1991 (J²²), a palavra έκκλησια (ekklesia) ou 'congregação' foi vertida por hlhq (qehillah) em Mateus 18:17, o que ajuda-nos a elucidar essa questão e ver que a palavra 'congregação' é polissêmica e ora possui um sentido mais lato, ora restrito, dependendo da aplicação e do contexto.  Já em Filipenses 1:1, a referida versão curiosamente traduz a expressão 'superintendentes' (que normalmente é vertida em hebraico por peqhidim) por qehillah, fazendo assim a inter-relação entre as palavras que se correspondem. 
Ou seja, tanto no caso de Filipenses como no de Mateus, a palavra qehillah tem um sentido mais 
restrito, referindo-se apenas aos superintendentes cristãos.

Assim, a qehillah poderia, investida de poderes delegados a ela, expulsar o errante impenitente da inteira ekklesiaPoderia “amarrar as coisas na terra” com a aprovação e precedente dados pelo Cristo, o qual confirmou que seriam “as coisas amarradas no céu”, mostrando que o Pai, Jeová, confirmaria tal decisão (Mateus 18:18). S.E. McNair, na obra “A Bíblia Explicada”, nos diz que “Quando a disciplina da igreja é exercida... as decisões da irmandade cristã são aprovadas por Deus e serão 'ligadas no céu'...” (pg. 322)

É desumano o tratamento dado aos desassociados e aos que se dissociaram?

Sem dúvida, é deveras triste saber que foi expulso da congregação, um parente ou amigo que tenha pecado e não se arrependeu, ou mesmo que se dissociou, ou apostatou dela e que agora passa a se tornar opositor, de modo que “não permanece no ensino do Cristo”. No entanto,  a Bíblia dá a clara orientação sobre como tratar a tais pessoas. Ela diz: “Cesseis de ter convivência … nem sequer comendo com tal homem” e também “nunca o recebais nos vossos lares, nem o cumprimenteis. Pois, quem o cumprimenta é partícipe das suas obras iníquas.” (1 Coríntios 5:11; 2 João 9-11)

Diante de tal ordem, é normal surgirem perguntas, tais como: “Até que ponto se deve cessar a convivência, não o receber ou o cumprimentar”? Não nos envolveremos nestas particularidades, pois isso é feito no livro “Mantenha-se no Amor de Deus”, publicado pelas Testemunhas de Jeová em 2008. Também, conforme vimos no início dessa matéria, tais detalhes variam de uma religião para outra. Entretanto, uma análise no texto original nos ajuda a ver até que ponto ía tal tratamento. 

A expressão grega usada pelo apóstolo Paulo em 1 Coríntios,  para “ter convivência com”, é o verbo sunanamígnymi, que significa  “misturar com”. O verbo (mígnmi) é usado em Mateus 27:34, por exemplo, para descrever a mistura de vinho com fel, e em Lucas 13:1, para descrever o que Pilatos fez, misturando sangue com sacrifícios. Explicando o termo 'convivência', o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (2009) diz: “vida em comum; contato diário ou frequente; intimidade, familiaridade; coexistência harmoniosa.” Sendo assim, se faz necessário a pergunta: Seria apropriado para o cristão fiel manter 'contato diário ou frequente', ter 'harmonia, intimidade ou familiaridade' com quem viola deliberadamente princípios bíblicos? Que dizer então com apóstatas? Manter convivência com tais apóstatas seria, por exemplo, o mesmo que alguém pedir para que você tenha amizade com alguém que fala mal de sua família! É razoável isso? Tem cabimento?

Em sua segunda carta, o apóstolo João usou uma palavra derivada de khaíro para 'cumprimentar', que significava 'alegrar-se' e era um cumprimento ou saudação, equivalente a “bom dia”, “oi” ou “olá”. (Veja o mesmo uso da palavra em Atos 15:23; 23:26 e Mateus 28:9).  Era um mero cumprimento, sem maiores formalidades, diferentemente de aspázomai, que era muito mais formal, pois poderia envolver um caloroso abraço, por exemplo. Portanto, não cumprimentar (khaíro) significava nem mesmo dizer um “oi” a um desassociado ou, menos ainda, a um apóstata!

Conforme já vimos, a prática de rejeição era utilizada amplamente entre o povo de Deus pré-cristão e no judaísmo. O escritor A. Edersheim escreveu o seguinte sobre quem era expulso: “Daí em diante ele era como um morto. Não se lhe permitia estudar junto com os outros, nem se devia manter com ele contato [social], nem mesmo se devia mostrar-lhe o caminho. Ele podia, é verdade, comprar as necessidades da vida, mas era proibido comer ou beber com tal.” —Extraído do livro The Life and Times of Jesus the Messiah, Vol. II, p. 184.

Tal precedente foi absorvido pelo cristianismo primitivo, com exceção de um ou outro detalhe. Comentando tal prática, o escritor Adam Clarke declara: “Não tenhais nenhuma comunhão com [o pecador expulso] em coisas sagradas ou civisPodeis transacionar vossos interesses mundanos com alguém que não conhece a Deus e que não professa o cristianismo, não importa qual seja seu caráter moral mas não deveis nem mesmo neste respeito reconhecer um homem que professe o cristianismo, que for escandaloso na sua conduta. Que ele leve este sinal extra de vossa abominação de todo o pecado.”

O mesmo foi confirmado por Joseph Blugham, historiador eclesiástico, que escreveu sobre o que ocorria nos primeiros séculos, no livro The Antiquities of the Christian Church, nas páginas 880 e 891: “A disciplina da igreja consistia no poder de privar homens de todos os benefícios e privilégios do batismo, por expulsá-los da sociedade e da comunhão da igreja, ... e todos se esquivavam deles e os evitavam na conversação comum, em parte para confirmar as censuras e os procedimentos da igreja contra eles, em parte para envergonhá-los e em parte para se prevenirem contra o perigo do contágio. ... ninguém devia receber os excomungados no seu lar, nem comer à mesma mesa com eles; não se devia conversar com eles de modo familiar, enquanto vivessem: nem se deviam realizar exéquias por eles quando mortos, ... Essas orientações baseavam-se no modelo daquelas regras dos apóstolos, que problema aos cristãos dar qualquer contemplação a infratores notórios.”

Tendo em vista tudo o que examinamos, não importa o quanto pessoas não-cristãs encarem essa prática. Não importa aos verdadeiros cristãos se tal prática disciplinadora seja taxada como “arcaica, medieval, desumana”. O que importa é que ela é uma diretriz bíblica, instituída por Deus, que melhor do que ninguém, sabe tudo o que está envolvido. Afinal, Ele “nos ensina a tirar proveito, nos faz pisar no caminho em que devemos andar”, lembrando também que tal diretriz foi recomendada por nosso Senhor Jesus Cristo, o fundador do cristianismo. (Isaías 48:17; veja também Romanos 9:20).

Pode o Estado intervir nesses assuntos?

Em 1988, a revista 'A Sentinela', em seu exemplar de 15 de abril, noticiou a decisão de um Tribunal norte-americano sobre um processo, onde uma mulher, ex-Testemunha, que havia ficado transtornada porque seus anteriores conhecidos não mais conversavam com ela, após ela ter escolhido dissociar-se da congregação. Antes de o processo ir a julgamento, uma corte distrital federal decidiu contra a mulher. Por que? A sentença baseava-se na ideia de que os tribunais não se envolvem em assuntos disciplinares de igrejas. 

Ela apelou disso então. Qual foi a decisão? A decisão unânime da corte federal de apelação baseava-se nos fundamentos mais amplos dos direitos da Primeira Emenda (da Constituição dos Estados Unidos), que reza: “Visto que a prática da rejeição faz parte da crença das Testemunhas de Jeová, julgamos que a provisão do ‘livre exercício’, da Constituição dos Estados Unidos, ... preclui que [ela] prevaleça. Os querelados (a congregação das Testemunhas de Jeová) têm um constitucionalmente protegido privilégio de se empenhar na prática da rejeição. Concordemente, confirmamos a sentença anterior da corte distrital.”  Concluindo, disseram que “a rejeição é praticada pelas Testemunhas de Jeová de acordo com a sua interpretação do texto canônico, e nós não temos a liberdade de reinterpretar esse texto ... Os querelados têm direito ao livre exercício das suas crenças religiosas ... As cortes, em geral, não examinam de perto o relacionamento entre membros (ou ex-membros) duma igreja. Concede-se às igrejas ampla latitude quando elas impõem disciplina a membros ou ex-membros. Concordamos com o conceito do Ministro Jackson [ex-ministro da Suprema Corte dos EUA] no sentido de que ‘atividades religiosas que envolvem apenas membros da crença são e devem ser livres — quase tão absolutamente livres como alguma coisa pode ser’. ... Os membros da Igreja que [ela] decidiu abandonar concluíram que não mais desejam associar-se com ela.    Sustentamos que eles têm a liberdade de fazer tal escolha.”

O tribunal de apelação reconheceu que, mesmo que a mulher se sentisse angustiada porque seus anteriores conhecidos preferiam não conversar com ela, “permitir-lhe ser compensada por prejuízos intangíveis ou emocionais restringiria inconstitucionalmente o livre exercício da religião pelas Testemunhas de Jeová ... A garantia constitucional do livre exercício da religião requer que a sociedade tolere o tipo de danos sofridos por [ela] como preço que bem merece ser pago para proteger o direito da diferença religiosa que todos os cidadãos usufruem”. Decisão “819 F.2d 875 (9th Cir. 1987)”, EUA.

Em certo sentido, esta decisão obteve ainda maior peso desde que foi feita. Como? A mulher requereu mais tarde a corte mais alta do país que julgasse o caso e possivelmente revogasse a decisão contra ela. Mas, em novembro de 1987, a Suprema Corte dos Estados Unidos negou-se a fazer isso.

Portanto, este importante caso estabeleceu um precedente: que alguém desassociado ou dissociado não pode obter num tribunal indenização por danos, pelas Testemunhas de Jeová, por ter sido rejeitado. Visto que a congregação acatou e aplicou as perfeitas diretrizes que todos nós podemos ler na Palavra de Deus, a pessoa sente uma perda causada pelas suas próprias ações. Embora diversas pessoas tenham instaurado processos, nenhum tribunal decidiu contra as Testemunhas de Jeová por causa da prática delas de rejeição, baseada na Bíblia.

No Brasil, já se noticiou que uma ex-Testemunha no estado do Ceará moveu ação alegando 'discriminação religiosa' por parte dos membros de sua anterior congregação e por parte dos anciãos, e que tal ação igualmente foi extinta *.

A 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE) determinou, em 31/08/2010, o trancamento da ação penal movida contra os anciãos, membros da Congregação das Testemunhas de Jeová, em Fortaleza. Os dois estavam sendo acusados de  "impedir o contato da ex-Testemunha, desassociado da congregação, com os integrantes daquela comunidade".

Conforme denúncia do Ministério Público (MP), a ex-Testemunha saiu da Congregação das Testemunhas de Jeová em dezembro de 2008. Por conta disso, ele teria sido impedido pelos anciãos de manter "convívio social e familiar" com os membros da referida entidade. Essa postura, de acordo com o MP, infringiria o art. 14 da lei nº 7.716/89, que cuida dos casos de discriminação por motivo de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.

A defesa dos acusados ingressou com pedido de habeas corpus (nº44832-87.2010.8.06.0000/0) no TJCE requerendo a extinção da ação penal instaurada, alegando ausência de justa causa. O processo tramita na 6ª Vara Criminal da Comarca de Fortaleza, Ceará.

Ao julgar o caso, a 1ª Câmara Criminal decidiu, por unanimidade, conceder a ordem para trancar a ação. "Não vislumbro, na escusa ao trato cotidiano, qualquer forma de discriminação, impedimento ou obstacularização. Há, sim, uma escolha por adeptos de credo religioso que, errado ou certo, apregoam a indiferença diante daqueles que, antes irmanados, abandonaram a crença, o que lhes parece lógico, pois resultante de interpretação da Bíblia Sagrada", afirmou o relator do processo, Desembargador Francisco Pedrosa Teixeira.

O relator finalizou: "Gostemos ou não, isso faz parte da liberdade de culto, sacramentada constitucionalmente. Levar a conduta ao patamar de ilicitude penal me parece demasiado. Ressalte-se que a vítima, em nenhum momento do inquisitório, acusou os pacientes, preferindo generalizar, afirmando que a discriminação era incentivada pelos dirigentes da aludida religião em todo o país. Se assim é, que seja acionada toda a comunidade eclesial!".

De qualquer forma, essa decisão corrobora o que a Constituição brasileira assegura, ou seja, a “liberdade de consciência e de crença”, em seu artigo 5º, inciso VI, e também “o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias”. Ademais, no artigo 19, inciso I,” é vedado à União... estabelecer cultos religiosos ou igrejas, … embaraçar-lhes o funcionamento...” 

É bom entendermos corretamente em que implica tais direitos, pois ninguém pode cerceá-los ou nos obrigar a fazer aquilo que vai contra nossa consciência. E o que está envolvido também em ter liberdade de consciência? Dicionário Houaiss explica que consciência é, também, o “sistema de valores morais que funciona, mais ou menos integradamente, na aprovação ou desaprovação das condutas, atos e intenções próprias ou de outrem”. 
É assegurado também pela Constituição a proteção às 'liturgias'. Segundo Houaiss, liturgia é “o conjunto dos elementos e práticas do culto religioso (missa, orações, cerimônias, sacramentos, objetos de culto etc.) instituídos por uma Igreja ou seita religiosa;  ramo das ciências eclesiásticas cujo objeto é a história do culto e seu direito canônico”. Direito canônico é o conjunto de preceitos que regem a estrutura de uma igreja, bem como as relações entre seus membros.

E é sabido por todos que a rejeição e a restrição imposta a desassociados e dissociados é e sempre foi prática das Testemunhas de Jeová, que faz parte de sua liturgia, de seu direito canônico. Esse direito canônico (a Bíblia) sempre regeu as relações entre as Testemunhas e seus ex-membros. Isso é seu livre exercício de liberdade de consciênciadireito de externar a sua 'desaprovação da conduta, atos e intenções de outrem', o que foi instituído pela Bíblia e assegurado pela Lei. Obrigar legalmente o contato com tais seria embaraçar-nos o funcionamento, pois primamos pela ordem, pureza e santidade da congregação, que é essencial ao seu 'funcionamento' e à aprovação de Seu Líder, Cristo. (Revelação 2:5)

A conclusão do assunto, tudo tendo sido ouvido, é...

A disciplina nas congregações cristãs, incluindo a desassociação e a dissociação, é um dos principais dispositivos que Deus usa para corrigir e restaurar o errante, quando caem em pecado. É também um modo pelo qual Ele mantém a unidade, pureza, integridade e boa reputação da congregação. É aplicada através de instrução, admoestação, conselho e repreensão, tanto em público como em particular e, em alguns casos, até por meio de exclusão social ou remoção do rol de membros, Deus corrige seus filhos desobedientes ou, então, remove da congregação aqueles que não são realmente seus. 

O próprio Senhor Jesus declarou ser a congregação (representada pelos anciãos) o instrumento que o céu emprega para executar essa difícil, porém necessária, função (Mateus 18:18-20). O escopo deste estudo é definir, em termos gerais, o que pode tornar a disciplina eclesiástica necessária e explicar como a Bíblia nos instrui a lidar quando ocorre essa necessidade. Obviamente, como se trata de vidas espirituais que estão em jogo, a congregação deve ministrar a disciplina com oração, com a aplicação diligente das Escrituras e na dependência do espírito de Deus.

Reconhecemos, entretanto, que existe certa tensão entre os diferentes princípios envolvidos na disciplina eclesiástica. Por um lado, somos recomendados à brandura em Gálatas 6:1 e, por outro, à severidade em Tito 1:13. Embora nunca sejamos autorizados a ter um espírito crítico e condenador (Mateus 7:1), somos, de qualquer forma, obrigados a julgar “os de dentro” (1 Coríntios 5:12). Assim como somos exortados a amar de modo que estejamos dispostos a “cobrir” determinados pecados (1 Pedro 4:8), também devemos nos exortar “uns aos outros cada dia“, a fim de que nenhum de nós fique “endurecido pelo poder enganoso do pecado” (Hebreus 3:13). Essa tensão é mais evidente no fato de que devemos amar o nosso irmão assim como Cristo nos amou (João 13:34,35) e, ao mesmo tempo, devemos estar dispostos a considerá-lo um incrédulo e lançá-lo fora de nosso meio, se ele continuar em pecado.  (Mateus 18:17; 1 Coríntios 5:11).

Pode ser tentador usar a palavra “equilíbrio” para descrever nosso desejo de lidar com essa tensão, mas, conforme é tipicamente compreendida, a palavra “equilíbrio” denota um escape das obrigações e convicções, na tentativa de não parecermos “desequilibrados” ou excessivamente zelosos. O problema com esse entendimento é que as Escrituras nunca orientam os cristãos a serem pessoas “equilibradas” conforme entendido neste sentido deturpado. Pelo contrário, somos ordenados a sermos zelosos e fervorosos, tanto no amor pelo próximo (Colossenses 3:14; 1 Pedro 4:8) como em nossa busca pela santidade e a pureza da congregação 
(Tito 2:14; Hebreus 12:14-17).

O que isso significa para a congregação nas questões referentes à disciplina é que nunca devemos confiar em nosso próprio entendimento e critério humano, o qual é propenso a levantar-se contra a Palavra de Deus. Isso torna-se mais desafiador quando ela, a Bíblia, se confronta diretamente com nossos desejos, interesses pessoais ou os de pessoas vinculadas à nós. No entanto, sabemos também que fazer isso é perigoso, pois concorda com as palavras do Diabo, que disse: “Tudo o que o homem tem dará pela sua alma”, o que implicaria em obediência interesseira, que poderia ser facilmente quebrantada quando houvesse conveniências pessoais envolvidas. O cristão verdadeiro, que é leal, não age assim!

Se esse pensamento errôneo nos acometer, isso significa que devemos estudar as Escrituras, confiar nelas e obedecê-las, mesmo quando a tensão que percebemos entre nossas obrigações bíblicas possam parecer insuportáveis. Precisamos ter em mais alta estima ambas as metas da disciplina na congregação (restaurar o indivíduo e manter a pureza da congregação), sempre permitindo que a Palavra de Deus determine nosso procedimento.

Concluindo, nosso desejo sincero ao ver aplicada a disciplina é que o errante repense sua situação e que se arrependa, voltando humildemente ao convívio de seus irmãos cristãos e ao favor divino! Afinal, “que filho há a quem o pai não disciplina?” Agora, se o errante prefere se opor amargamente à disciplina e a seus ministrantes, na realidade, que espírito esta pessoa está demonstrando? 

Se estais sem a disciplina de que todos se tornaram participantes, sois realmente filhos ilegítimos, e não filhos” (Hebreus 12:7,8). Pense nisso! Ainda há tempo para mostrar arrependimento, humildade para poder voltar! Aproveite esse tempo! Nosso Pai Celestial, Jeová, estará de braços abertos esperando você voltar!









"Enquanto ainda estava longe, seu pai o avistou e teve pena, e correu e lançou-se-lhe ao pescoço e o beijou ternamente" 
- Lucas 15:20



Referências

- “Estudo Perspicaz das Escrituras”, publicado pelas Testemunhas de Jeová, 1990;
- “Disciplina na Igreja”, Jim Elliff e Daryl Wingerd, publicado pela Editora Fiel, 2006;
- “O Novo Comentário da Bíblia”, F. Davidson, publicado pela Editora Vida Nova, 1997;
- “Escrituras Gregas Cristãs (Novo Testamento)”, em hebraico, publicado pelas Sociedades Bíblicas Unidas, Jerusalém, 1991;
- “A Bíblia Explicada”, S.E. McNair, publicada pela Casa Publicadora das Assembleias de Deus (CPAD), ed. 1997;
- “Comentário Bíblico de Matthew Henry”, versão e-book, 2008, disponibilizado pelo site semeadoresdapalavra.net ;
- “Concordância Bíblica Exaustiva de Strong”, publicado pela Sociedade Bíblica do Brasil, 2002;
- “Dicionário Houaiss Eletrônico da Língua Portuguesa”, Instituto Antonio Houaiss, publicado pela Editora Objetiva, 2009;
- “Dicionário Bíblico Vida Nova” (versão brasileira), Derek Williams, publicado pela Editora Vida Nova, ed. 2005;
- "Enciclopédia Virtual "Wikipedia", disponibilizado em http://pt.wikipedia.org/wiki/Página_principal ;
- "Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas" (NM), com Referências, ed. 1996 (a menos que haja outra indicação, os textos citados neste artigo são desta versão bíblica).

* Sobre o processo e a extinção da ação penal no Ceará, veja-se os links: