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quarta-feira, 2 de julho de 2014

É Confiável o Testemunho dos Apóstatas?

É Confiável o Testemunho dos Apóstatas?


Algumas vezes meios de comunicação oferecem testemunhos de pessoas que foram Testemunhas de Jeová como meio de dar a conhecer mais a fundo nossa religião. De forma quase invariável estes testemunhos são muito negativos, mas até que ponto são verificáveis e imparciais?
Quem são os apóstatas?
As Testemunhas de Jeová chamam aos que as atacam pelos meios de comunicação de “apóstatas”. Algumas destas pessoas rejeitam esta palavra alegando que não lhes descreve corretamente, mas trata-se de um termo depreciativo. Mas cabe-nos perguntar-nos: Quem são os apóstatas?

Kliever
O sociólogo Lonnie D. Kliever, catedrático da Southern Methodist University, explica: “A palavra é uma transliteração do grego “apostasia” que originalmente denotava insurreição ou sectarismo. Seu uso religioso denota o abandono deliberado da sua religião.” 



Na mesma linha, o Catedrático de Sociologia da Universidade de Oxford, Bryan Ronald Wilson, escreveu: “Pode chamar-se claramente de apostasia quando um antigo crente renuncia aos seus votos e a sua anterior filiação religiosa.” Deste modo, qualquer pessoa que abandona voluntariamente sua religião pode ser corretamente considerada um apóstata do ponto de vista dessa religião.


No entanto, as Testemunhas de Jeová costumam ser mais restritivas ao classificar alguém de apóstata, pois não consideram como tal a qualquer pessoa que abandone sua religião, mas apenas aqueles que ao abandonar sua fé, passam a atacar-las publicamente. Desse modo, alguns dicionários incluem também em sua definição o fator de publicidade, por exemplo, o Dicionário Houaiss da língua portuguesa o define: “1. desertar (da religião a que pertencia) para adotar outra ou não; abjurar; 2. renegar opiniões, doutrinas ou ideias.” Também o próprio professor Kliever, antes citado, voltou a definir a apostasia: “Deve compreender-se como um fenômeno mais público que privado. A apostasia não é uma questão de dúvidas religiosas privadas ou de abandono das práticas religiosas. A apostasia é uma renúncia e condenação pública das anteriores crenças e práticas religiosas deste.
Cada ano, algumas centenas de pessoas em vários países deixam de ser Testemunhas de Jeová. Alguns são expulsos, outros decidem dissociar-se voluntariamente, e outros passam a abandonar as atividades das Testemunhas de forma gradual ao passo que vão perdendo seu interesse. Muitas destas ex-testemunhas de Jeová mantêm uma opinião neutra ou até mesmo favorável de sua anterior religião, até mesmo, muitos dos que são expulsos dão passos para serem readmitidos depois de um tempo. E entre quem tem uma opinião negativa (seja por diferenças pessoais com outras Testemunhas ou por discordar em assuntos de doutrina organizacional), apenas alguns têm esta atitude de desrespeito que os leva a tratar de dar publicidade às suas críticas, transformando-se assim em o que as Testemunhas de Jeová denominam corretamente - um apóstata.

São confiáveis seus testemunhos?
Em décadas recentes têm aparecido novas confissões religiosas que exigem um alto grau de lealdade de seus membros, e outras não tão recentes como as Testemunhas de Jeová que têm experimentado um grande crescimento, o que tem suscitado a curiosidade da sociedade. Especialmente os casos de apostasia têm atraído notavelmente os meios de comunicação sensacionalistas, que veem a história relatada por um apóstata como uma boa reportagem, especialmente se este se oferece a “revelar" aspectos secretos do movimento ao qual pertencia. Em consequência, os apóstatas recebem uma atenção injustificada da mídia, como veremos, tanto que seus relatos passam a ser a informação mais amplamente disponível para o grande público sobre as religiões minoritárias. Precisamente por isso, segundo o professor Wilson, o apóstata se transforma em uma figura central de informação —ou desinformação — da opinião pública sobre estes movimentos. Segundo o prof. Kliever (em seu livro The Reliability of Apostate Testimony About New Religious Movements [A confiabilidade do testemunho dos apóstatas sobre os novos movimentos religiosos], 1995): “A critica do apóstata não deve ser aceita pelos meios de comunicação, a comunidade de investigadores, o sistema legal, nem as agências governamentais como fonte confiável de informação sobre novos movimentos religiosos; se deve considerar sempre como um indivíduo predisposto a expor uma visão parcial, tendenciosa”. Por quê?
Muitas das confissões religiosas minoritárias, como as Testemunhas de Jeová, requerem uma estrita aderência de seus membros às suas normas morais e doutrinais, que diferem das religiões tradicionais e da moralidade geral da sociedade. Isto gera certa tensão que pode produzir em alguns um desejo de aceitação social. Não nos surpreende, portanto, que alguns membros terminem decidindo que certo movimento religioso não é para eles e o deixam, já que não sentem a suficiente motivação para manter as normas do grupo e então são expulsos pelo grupo. Como dissemos anteriormente, a maioria considera sua experiência de forma positiva como um passo a mais em seu progresso espiritual. Mas entre os que abandonam ou são expulsos, há alguns que adotam uma postura de ressentimento e se convertem em detratores que atacam publicamente a sua religião anterior através da imprensa e dos tribunais.
O professor Kliever compara a dinâmica de separação do apóstata de um grupo religioso ao que antes amava, com um divórcio cheio de amargura. Tanto o matrimônio como a religião requerem um alto grau de compromisso e implicações; quanto maior seja a implicação, mais traumática a ruptura; quanto mais tenha durado o compromisso, mais urgente é a necessidade de culpar o outro do fracasso da relação. Os que têm sido membros de novos movimentos religiosos durante muito tempo e tem estado muito envolvidos, mas com o tempo se sentem desencantados com sua religião, em geral, costumam jogar toda culpa em seus anteriores co-membros da organização religiosa. Como explica o investigador de assuntos religiosos Gordon Melton (em seu livro Brainwashing and the Cults: The Rise and Fall of a Theory [A lavagem cerebral e as seitas: a ascensão e queda da teoria], 1999), “magnificam pequenas faltas para convertê-las em grandes maldades, transformam decepções pessoais em maliciosas traições e inclusive contam falsidades incríveis com o objetivo de prejudicar a sua anterior religião”.
Por isso, qualquer pessoa pode sentir-se até certo ponto comovida a abandonar uma religião a qual amava, assim como uma pessoa que chega a se divorciar, pode sentir-se emocionalmente desestabilizada durante um tempo. Isto em si mesmo não desqualifica a religião, assim como o divórcio não desqualifica a instituição do casamento em si. Além disso, investigadores como Lewis Carter, David G. Bromley e Gordon Melton consideram que são poucos os casos em que alguém necessita de ajuda psicológica por abandonar sua religião e sempre são atribuídos à influência dos grupos anti-seitas, do que ao abandono em si de sua anterior religião.

O apóstata em geral sente uma grande necessidade de se autojustificar. Trata de reconstruir seu próprio passado, desculpar sua anterior afiliação a uma religião que agora tanto odeia, e culpar aos que antes eram seus associados mais próximos. Isto explica sua disposição de rechaçar fortemente qualquer informação ou argumento da sua anterior fé, refutando a postura que tanto tinha, cria ou assumia. O sociólogo norte-americano David Bromley (em seu livro The Politics of Religious Apostasy: The Role of Apostates in the Transformation of Religious Movements (A política da apostasia religiosa: o papel dos apóstatas na transformação dos movimentos religiosos) CT, Praeger Publishers, 1998) disse que indivíduos que desejam deixar uma fé eleita por eles mesmos devem fazer-se críticos com ela para justificar sua marcha, ou que abre a porta a serem recrutados e utilizados por organizações que buscam usar seu testemunho como uma arma. Aparentemente a pessoa se sente mais respaldada quando encontra algum tipo de coalizão que corrobore sua postura, a qual abre a porta a uma hostilidade reforçada e renovada. Como resultado de compartilharem novas experiências e opiniões negativas, estas pessoas, a principio recebem a autojustificação que buscam de organizações antisseitas ou grupos religiosos fundamentalistas, que veem a estas novas religiões como rivais perigosos. Por estarem extraordinariamente ativos na Internet, estes grupos proporcionam aos dissidentes, as explicações de uma suposta manipulação, um controle mental ou inclusive uma lavagem cerebral, para que possam assim racionalizar sua repentina aderência e igualmente repentino abandono de um movimento religioso. A informação proporcionada por estes grupos costumam ser altamente negativa e fortemente tendenciosa contra a organização que tem deixado atrás, proporcionando-lhes uma língua aberta para contar suas histórias de suposta sedução e libertação.
 Numerosos cientistas sociólogos têm afirmado que estas autobiografias de “sobrevivi a uma seita” são relatos com um estilo altamente convencional, todos com um gênero estereotipado.  Isto é o que alguns sociólogos denominam a "historia cruel", que tanto gosta a imprensa sensacionalista, e que alguns investigadores inclusive chegam a considerar una categoria de fenômenos (veja A.D. Shupe, Jr., y D. G. Bromley, "Apostates and Atrocity Stories" [“Os apóstatas e as historias cruéis”],  B. Wilson (ed.), The Social Impact of New Religious Movements [O impacto social dos novos movimentos religiosos], New York, Rose of Sharon Press, 1981, págs. 179-215.).
O apóstata necessita estabelecer sua credibilidade tanto com respeito à sua conversão a anterior religião como a sua posterior renúncia a tal compromisso. Assim, necessita de uma explicação convincente tanto de sua aderência a sua anterior fé como do seu abandono e condenação da mesma, e o gênero da “historia cruel” que lhe permite enganar-se nisto ate certo ponto. Graças a esta história, o apóstata representa a si mesmo como uma pessoa que foi introduzida em sua anterior confissão religiosa num momento em que estava especialmente vulnerável. Seus anteriores companheiros agora são representados como pessoas que lhe convenceram com falsidades, enganos, promessas de amor, apoio, melhores perspectivas, maior bem-estar, etc. Na realidade, segundo sua história, eram falsos amigos que só buscavam explorar sua boa vontade e conseguir dele muitas horas de trabalho grátis ou todo o dinheiro ou propriedades que tivesse. Assim se representa como uma pessoa que não é responsável por suas ações quando foi aprisionado por sua anterior religião, e que voltou a recobrar o juízo quando a deixou. Sua mensagem vem a ser: “Nestas circunstâncias, ele poderia ter sido enganado por qualquer um. Eles são totalmente os responsáveis e eles atuaram com malícia”. O apóstata exclui assim a responsabilidade de suas ações para reintegrar-se na sociedade que agora deseja influir, e mobilizar, contra o grupo religioso que ele abandonou.
Segundo o prof. Wilson, os apóstatas, graças ao sensacionalismo da imprensa, às vezes tem decidido usar com ganância os relatos de suas experiências vendendo a história a algum periódico. (Bryan Wilson, The Social Dimensions of Sectarianism (As dimensões sociais do sectarismo), Oxford: Clarendon Press, 1990, pág.19). Citando o professor Kliever: “É inegável que estes tenazes e acérrimos opositores das novas religiões apresentam uma visão distorcida destas novas religiões perante o público, os investigadores e os tribunais. Sempre representam um cenário que lhes justifica por meio de transferir a responsabilidade de suas ações ao grupo religioso. O fato é que as diversas histórias de lavagem cerebral tão frequentemente relacionadas com movimentos religiosos têm sido repudiadas de forma esmagadora por cientistas sociólogos e experientes em religião, como nada mais que esforços calculados para desacreditar tal religião diante a opinião pública e as agências governamentais. Dificilmente tais apóstatas podem ser considerados como informadores confiáveis por jornalistas, investigadores e juristas responsáveis. Relatos de desertores devem ser incluídos com precaução, pois eles interpretam sua experiência religiosa passada à luz de seus esforços presentes para restabelecer sua própria identidade e auto-estima.
Coincide também com o prof. Wilson ao escrever: “Os apóstatas podem ser informantes muito dispostos, mas os sociólogos no geral tem grande cautela com esta fonte de informação. Preferem antes os informantes que são meros contatos e que não tem motivos pessoais no que dizem do que aqueles que desejam utilizar a investigação para seus próprios fins. O desafeto e em particular o apóstata, são informantes cuja evidência deve-se utilizar com cuidado.”
Em conclusão, vemos que o termo apóstata é um termo correto e não necessariamente depreciativo, e que se refere apenas a uma pequena fração de ex-Testemunhas de Jeová, concretamente aos que se envolvem ativamente em tratar de desacreditar a sua anterior religião, às vezes trabalhando sob a influência de grupos religiosos “antisseitas”. A animosidade destas pessoas e sua necessidade de justificar suas decisões contraditórias fazem que sua visão de sua anterior religião esteja notavelmente distorcida, além do que seus testemunhos têm uma credibilidade muito duvidosa.

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