A Questão entre as TJs, as Igrejas e as
"falsas profecias"
Um olhar mais atento sobre a história eclesiástica revelará uma
crônica de previsões não cumpridas feitas por líderes religiosos. Em muitos
casos foram acontecimentos turbulentos e/ou grandes mudanças sociais que
motivaram e deram origem a essas expectativas. Infelizmente, porém, há casos em
que, ao não se materializar o evento previsto, as massas experimentaram uma perda
de fé ou uma profunda decepção. Na verdade, existem indivíduos que hoje, por
causa deste histórico de predições falhas, recusam-se em atribuir credibilidade
a qualquer prognóstico religioso.
Muitas pessoas estão conscientes de que a Bíblia contém informação
profética. E alguns acham que a Bíblia é diretamente responsável por muitas
previsões que falharam. Outros ainda, no entanto, acham que a Bíblia não é a
responsável, mas que algumas pessoas fizeram interpretações que não tinham base
nas profecias bíblicas.
Este artigo documentará alguns casos de predições não cumpridas dentro
de grandes confissões religiosas que professam ser cristãs. Como vimos no
artigo " Falsas profecias ou equívocos? ", será que forçosamente tais
denominações devem ser rotuladas como falsos profetas? Que o leitor chegue a
conclusão correta!
A QUESTÃO EM
RELAÇÃO COM A IGREJA CATÓLICA ROMANA
A grande Igreja Católica Romana também tem um histórico de predições que
nunca se cumpriu. Gregório I, que foi Papa entre 590-604 E.C., predisse que o
fim do mundo era iminente numa carta que escreveu a Etelberto, um monarca
europeu. Segundo se cita no livro de Bernard McGinn, “Visions of the End – Apocalyptic Traditions in the Middle Ages”, pag. 64, este Papa aconselhou:
"Além disso, também desejamos que saiba Vossa Majestade,
conforme aprendemos das palavras do Deus Todo-Poderoso nas suas Sagradas
Escrituras, que o fim do mundo atual já está próximo e que o eterno Reino dos
Santos se aproxima. Ao ir se aproximando este fim do mundo, muitas coisas
incomuns vai acontecer: alterações climáticas, terrores do céu ... Todas estas
coisas não vão acontecer em nossos dias, mas todos eles virão a seguir em
nossos tempos ".
Mais tarde, segundo a “Cyclopedia of Biblical,
Theological & Ecclesiastical Literature”, de M'Clintock
e Strong, volume 1, pag. 257, se diz:
"Desde o ano 950, Adso, um monge de um mosteiro da
Francônia Ocidental, escreveu um tratado sobre o Anticristo, no qual ele
assinalava um tempo posterior para sua vinda, e também para o fim do mundo …
"Um rei franco", diz ele, "restaurará o Império Romano e
abdicará no Monte das Oliveiras, e ao dissolver seu reino, o Anticristo será
revelado".
Este estudo não estaria completo sem se fazer uma referência às
previsões do abade católico romano Joaquim de Fiore, um célebre escritor e
clérigo. Segundo R.B. Barnes comentou no livro “Prophecy and
Gnosis...”, pag. 22,:
"O pensador profético mais original da alta idade média
foi o abade calabrês Joaquim de Fiore (1131-1202) ... Em seus escritos mais
influentes, Joaquim interpretou a história através da Bíblia como um
desdobramento progressivo de três etapas, cada uma das quais era governada por
uma pessoa da Trindade. A Idade do Pai, uma era de temor e obediência sob a
Lei, tinha sido consumada com a vinda de Cristo. A Idade do Filho era a época
atual da fé e tutela sob o Evangelho, que seria seguido, por sua vez, pela
Idade do Espírito Santo ... Esta terceira e última etapa histórica, na qual se
consumaria a história humana, a qual já estaria alvorecendo no final do século
XII; Joaquim esperava a sua realização plena dentro de algumas gerações após o
ano 1200 ...".
Outro católico, Arnaldo de Villanova (segundo “Visions of the End...”, pag. 147, e “Prophecy and Gnosis”, pag. 24), predisse que “o Anticristo
apareceria em 1378”.
É óbvio que todas essas predições católicas fracassaram!
A QUESTÃO EM
RELAÇÃO À IGREJA LUTERANA
Uma das mais importantes confissões protestantes é a Igreja Luterana,
originada pelo reformador Martinho Lutero (1483-1546). O agravamento dos
acontecimentos durante o século XVI levaram Lutero a predizer que o fim do
mundo era iminente. De acordo com a obra “Reformation
Principles and Practice: Essays in Honor of Arthur Geoffrey Dickens”, pag. 169, Lutero declarou:
"De minha parte, tenho a certeza que o dia do juízo está
ao virar da esquina. Não importa que nós não saibamos o dia exato ... talvez
alguém pode calculá-lo. Mas é certo que os tempos agora estão chegando ao seu
fim."
Outro pesquisador, Robin Bruce Barnes, em seu livro “Prophecy and Gnosis – Apocalypticism in the Wake of the Luteran Reformation”, pags. 32 e 40, observou:
"Para Lutero, havia um padrão claro de degeneração na
história mundial..., correlacionando os acontecimentos históricos com profecias
bíblicas, Lutero pôde anunciar a proximidade do cataclismo final - e libertação
para os crentes - com relativa certeza ... (Lutero) estava, portanto, seguro de
que seu tempo era o "tempo do fim" mencionado em Daniel 12, quando o
significado dessas profecias era para ser revelada."
Continuando com o prenúncio de um desastre iminente após a morte de
Lutero, apareceram regularmente recompilações de suas predições. Alguns eram
breves panfletos, como "As Várias Declarações
Proféticas do Doutor Martinho Lutero, o Terceiro Elias" (1552). Sobre este, o escritor luterano Robin Bruce
Barnes, escreveu no livro “Prophecy and Gnosis –
Apocalypticism in the Wake of the Luteran Reformation”, pág. 64: "Lutero tinha profetizado que, depois de sua
morte, o Evangelho desapareceria". Um
zeloso luterano chamado Adam Nachenmoser escreveu uma volumosa obra intitulada “Prognostican Theologicum”, por volta de 1584.
Neste trabalho, Nachenmoser tentou interpretar todas as profecias da Bíblia. Em
um caso, segundo a obra anteriormente citada de R.B. Barnes, pags. 121, 122,
Nachenmoser previu que "... Em 1590 o Evangelho seria pregado a todas as nações e uma
maravilhosa unidade seria alcançada ... o último dia estaria, então, próximo.
Nachenmoser ofereceu numerosas conjecturas sobre a data; 1635 parecia mais
provável ...".
Outro
líder luterano, Andreas Osiander, escreveu “Conjecturas
sobre os Últimos Dias e o Fim do Mundo” (em
latim em 1544 e alemão em 1545). Afirma-se nesta obra (segundo a obra de R.B.
Barnes, pag. 116) que “... A
queda do Anticristo estava prevista para 1672. Um período de cerca de dezesseis
anos se seguiria, durante o qual o Evangelho seria pregado em todo o mundo. No
final deste tempo, ao começar as pessoas a pensar que tudo estava bem e que
poderiam viver como quisessem, uma terrível punição cairia sobre elas e o
Senhor viria como um ladrão na noite.”
Todas essas previsões luteranas
falharam!
A QUESTÃO EM RELAÇÃO À IGREJA BATISTA
A Igreja Batista, composta de suas muitas
ramificações, é uma das mais proeminentes igrejas protestantes no mundo. Ela
também tem a sua cota de previsões especulativas. Segundo o livro “When
Prophecy Fails”, de Festinger, Riecken e Schaeter, pag. 7, um dos primeiros
grupos, "os anabatistas do princípio do século XVI criam que o Milênio
ocorreria em 1533".
Hoje em dia, sobre
o tema do governo milenar de Cristo, pelo menos um grupo da Igreja Batista deve
estar equivocado com respeito às suas previsões, uma vez que existem
basicamente dois conflitantes pontos de vista proféticos no seio desta igreja.
Os autores O.K. Armstrong e Marjorie Armstrong deixaram isso claro no capítulo
17 de sua obra “The Indomitable Baptists”: "Um tema favorito de
disputa entre os batistas ultraconservadores é a doutrina do Milênio, que trata
da Segunda Vinda de Cristo. Uma menção do Milênio no livro de Apocalipse,
tomada literalmente, deu origem a discussões sobre o governo de Cristo sobre a
Terra, se seria por mil anos antes de sua ascensão final ou mil anos depois
...". Um grupo veio a ser chamado de "pré-milenaristas" e o
outro "amilenaristas", certamente levantando a questão de qual grupo
de batistas fez a previsão correta. Evidentemente, mais uma vez tornou-se claro
que havia (e ainda há) algum tipo de previsão frustrada dentro de outra
confissão religiosa amplamente respeitada.
No início do século XX, o conhecido Dr. Isaac M.
Haldeman, pastor da Primeira Igreja Batista da cidade de Nova York, predisse
que, antes que os judeus retornassem à Palestina, apareceria o Anticristo. Em
seu livro “The Signs of the Times”, pags. 452, 453, Haldeman explicou:
"As Escrituras ensinam que este homem (o
Anticristo) será o principal fator para trazer os judeus de volta como conjunto
a sua própria terra; que ele será o poder que trará êxito ao sionismo, e que
através dele o nacionalismo dos judeus triunfará".
O pastor e escritor batista Isaac
Massey Haldeman Seu livro "The Signs of the Times"
Quando
o Estado de Israel foi fundado em 1948, os judeus foram restaurados a Palestina
sem o advento do Anticristo.
Obviamente, os
batistas também falharam em suas predições!
A QUESTÃO EM RELAÇÃO ÀS IGREJAS EVANGÉLICAS PENTECOSTAIS
Uma das
principais igrejas protestantes "carismáticas" do nosso tempo é a
Igreja Assembleia de Deus.
Este grupo tem uma rica história de predições que não se cumpriram.
Um estudo definitivo sobre as predições realizadas por esta
igreja se publicou em 1977 sob o título 'Armageddon Now!'. Seu autor,
Dwight Wilson, é um ministro ordenado das Assembleias de Deus e tem servido
como catedrático de História no seminário Bethany Bible em Santa Cruz,
Califórnia. Este livro fala de predições falhas desta e de outras igrejas, e em
sua sobrecapa se inclui o seguinte aviso: "O autor adverte a seus
companheiros premilenaristas que perderam a credibilidade, se seguem vendo em
cada crise política um cumprimento seguro de profecias bíblicas, pesem a seus
óbvios erros relativos a crises anteriores".
O livro 'Armageddon Now!' (Armagedom Agora!), de Dwight Wilson (Para fazer um
download gratuito deste livro, em inglês,
queira clicar no link abaixo)
Durante a Primeira Guerra Mundial, a revista 'The Weekly Evangel' (O Semanário do Evangelho),
publicação oficial das Assembleias de Deus dos EUA, fez a seguinte predição em
seu número de 10 de abril de 1917, pg. 3:
"Ainda não estamos na luta do Armagedom propriamente dita,
senão em seu começo, e pode ser, se os estudantes de profecias interpretam bem
os sinais, QUE CRISTO VENHA ANTES QUE TERMINE A ATUAL GUERRA, E ANTES DO
ARMAGEDOM. (...)A guerra preliminar ao Armagedom, pelo que parece, já
começou."
O número de 13 de maio de 1916 da mesma revista, pg. 6-9,
incluia um artigo intitulado 'Os Tempos dos Gentios' em que se fizeram mais
predições. Entre elas, se declarou:
"Tal como Israel perdeu o domínio sobre sua terra, o
princípio destes tempos dos gentios (606 AEC, segundo o autor do artigo),
parece que a primeira data terminal marcaria algum tipo de princípio de
restauração da Terra. Não dá isto grande significado ao movimento sionista da
parte dos judeus?(...) Que inspirador é o pensamento de que, se 1915 ou 1916
resulta ser a primeira data terminal, então os 19 anos mais até 1934 ou 1935
podem abranger o tempo do fim com o turbilhão de acontecimentos, como o reino
dos Dez Reis, o Anticristo, o pacto dos sete anos..."
No número de 26/03/1949, pg.10, se disse: "O Terceiro Templo conforme
esboçado por Ezequiel asseguradamente será reconstruído em nossa própria
geração."
O número de 09/03/1940, pg.11, diz: "Com tanta atividade
militar ao redor da Palestina dá a impressão que as nações estão se apressando
ao seu grande conflito no Armagedom."
Já o número de Abril de 1948 diz, sob o título 'Deus e a Crise
Mundial': "Nove países da
Europa Oriental já estão unidas. Está preparado o terreno para a grande batalha
do Armagedom."
E para finalizar, mais uma 'pérola', do número de 21/05/1949,
pg.2: "A Guerra
Atômica começará, antes, ou no mínimo, em Janeiro de 1953".
Este periódico chamava-se 'Weekly
Evangel'(atualmente 'Pentecostal Evangel'), a revista
semanal das Assembleias de Deus dos Estados
Unidos, produzida no Missouri. Tem tiragem de 240.000 exemplares e sua primeira
edição foi em 1913, exatamente um ano antes da formação das Assembleias de Deus
nos EUA.
Um destacado lider das Assembleias de Deus,
Thomas M. Chalmers, em um sermão proferido em princípios dos anos 20 do século
passado diante da Igreja das Assembleias de Deus de Springfield, Missouri, tem
feito predições baseadas em sua exegese de Ezequiel, cap.38. Em parte
afirmou:
"Dentro de meia dezena ou uma dezena de anos (eu não creio
que sejam uma dezena de anos), uma bonita manhã os habitantes de Jerusalém
verão uma grande nuvem (veja-se o vers.16); em poucos minutos, a nuvem
desenvolverá-se numa grande nuvem de aviões que irão aterrizar dezenas de
milhares de homens sobre o solo da Palestina". ("Palestinian
Mandate Approved", The King´s Business, XIII, 11/1922, pg.1137)
Obviamente, as predições e expectativas de Chalmers e de todos
os assembleianos não se cumpriram!!!
CONCLUSÃO
Como vimos, as inúmeras denominações protestantes, bem como
outras, estão infestadas pelas ditas 'falsas profecias'.